sexta-feira, 18 de maio de 2007

Castelo Mendo

Almeida, julgo eu, é o único concelho do país a ter dois centros históricos. Haja alma para percorrer a A25 até Almeida, bem pertinho da fronteira com a Espanha. Ok... este trocadilho passa despercebido, mas foi inteligente :-). Eu explico... a frase chave do concelho é Alma até Almeida.
Uma vez lá (lá onde já estive dezenas de vezes)... a descoberta: Castelo Mendo. Situada num cabeço - palavra que não uso muitas vezes - de onde se goza de uma vista deslumbrante, de cortar a respiração. A vila conserva o registo medieval e a cada olhar imagina-se o enquadramento da próxima foto. Este templo, o da foto, é magnífico... poderia estar horas em reflexão, a contemplar, sentada naquele troço de escadas de onde se avistam os férteis vales...


quarta-feira, 16 de maio de 2007

Viagem no tempo

Há sítios que nos fazem sentir que fizemos uma viagem no tempo, além de nos deslocarmos no espaço. Assim é Marialva. Ao entrar na vila medieval rodeada pela imponente e bem conservada muralha sentimo-nos transportados para outra era. Na povoação, que fica plantada num enorme rochedo granítico, quase podemos ouvir o som dos cavalos a trotar pelo empedrado, ou do burburinho dos habitantes em dia de feira.

Em Marialva, nem o nome é banal. Reza a lenda que vivia no local uma linda moura com pés de cabra chamada Marialva que, quando se apaixonou por um cavaleiro cristão subiu a uma das torres da povoação e acabou por revelar a todos o seu segredo. Ao sentir que foi vista pela população como um demónio, a moura atirou-se da torre onde vivia. O seu nome acabou por ser dado à povoação.

Não vi mouras encantadas e dos cavaleiros cristãos restam apenas marcas, contudo, o ar da vila está impregnado de magia. À sombra do pequeno castelo românico nasceu uma povoação medieval que teve grande importância em vários períodos da história regional e nacional: foi ocupada por mouros e visigodos, fez parte da reconquista e ficou ligada ao reinado do Mestre de Avis e ao declínio dos Távoras... tudo e todos os que passaram por Marialva contribuíram para criar o encanto que a vila tem.
Fora da muralha, todas as casas estão arranjadas. Parecem de colecção. Quase todas com um alpendre que convida a ficar sentado e ver passar o tempo, porque o tempo não parece passar em Marialva.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Ares do campo

Com as suas vestes pretas, luto de um marido bêbado e inútil, Virgínia aparenta uns 90 anos (ou mais) muito frágeis. Trabalha de sol a sol no campo, enquanto o filho, outro amigo da pinga, cansa-se (o dia todo) sentado num banco à porta de casa. Não é raro vê-la acarretar com grandes pesos. Chega a dar dó. Trabalha desde o raiar do sol até que este se ponha, quando neva e o frio se entranha no seu corpo esquelético, ou quando o calor é sufocante que uma perna tem que pedir licença à outra para se mover.
Virgínia tem 70 anos e não 90, é doente... teve um cancro no esófago. Deram-lhe meses de vida... há oito anos atrás. Mas ela lá continua, todos os dias, a ir trabalhar para o campo, a subir e a descer os caminhos, de bacia, sempre carregada, na cabeça... colhendo o alimento que põe na mesa. Também cozinha, arruma a casa, trata das coisas do filho, e ainda mima os vizinhos com dois dedos de prosa ou uma ou outra alface bem fresca que acabou de trazer da horta.
Pergunto-me se é feliz...

sábado, 14 de abril de 2007

O bigode de Dona Glória


Dona Glória perdeu o marido em França, num acidente de carro, quando este ia a caminho de Bordéus, depois das habituais férias de Verão em Portugal. Já lá vão mais de vinte anos. De então para cá, sem a ajuda do emigrado, mas habituada ao trabalho duro do campo, Dona Glória fez o que antes tinham feito os seus pais, e antes os pais destes, tomou conta de ovelhas.
Faça chuva ou faça sol, é vê-la sempre de um lado para o outro, com a força e a genica de um homem, e dos mais fortes. De poucas falas, Dona Glória queixa-se das frequentes inspecções aos animais, e das multas, que “por nada”, garante, lhe tornam ainda mais magro o ganho de cada mês.
Dona Glória só não perde o sorriso claro, e um ligeiro bigode, como convém à sua condição.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

A casa assombrada de Rubiães

Casa privada com capela... totalmente abandonada... É uma pena..., digo eu, mas há outras em Paredes de Coura.
Uma delas atrai imediatamente a atenção, sobretudo quando há a suspeita de que se trata de uma casa assombrada... Ora, esta informação bastou para que a curiosidade ditasse os passos seguintes.

A fachada da casa é, para mim, quase denunciadora de que alguma coisa de estranho se passou ou passa dentro daquelas paredes. Resolvemos entrar... com um pouco de receio... admito, porque com estas coisas não se brinca. Entramos e fotografamos. E a verdade é que consegui vislumbrar beleza em todo aquele abandono. Lembro-me agora de que quase não falávamos, como se de repente uma viga nos fosse cair em cima ou aparecesse "alguém". Ok, é verdade, sempre tive medo destas coisas.
No final, sobrevivemos para contar a história de como entramos à socapa na casa... dita... assombrada.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

O regresso à ruralidade

Quem vive no corre-corre das grandes cidades merece, de vez em quando um regresso à ruralidade. Respirar o ar puro do campo, passear por entre caminhos onde o empedrado é salpicado aqui e ali por plantas e flores e encontrar ovelhas que pastam livres debaixo do um agradável sol primaveril.
Foi este o cenário da viagem pelas freguesias de Paredes de Coura e a beleza que tentei captar através da lente da máquina fotográfica, mesmo que para isso tenha estado meia hora à espera que o cavalo parasse de comer a erva verde do campo e me permitisse fotografá-lo.
Aqui e alí encontra-se alguém que caminha sem a pressa dos que vivem sob a ditadura do relógio. Não consigo deixar de pensar que no campo o tempo é diferente, não corre como na cidade, passeia-se calmamente por entre os campos e até pára para ver a água que corre nos riachos.

Igreja Românica de Rubiães


"Nesta igreja espaçosa, a capela-mor, as paredes laterais e o pórtico estão classificados. Este último elemento é particularmente curioso, formado por três arcos concêntricos, ligados entre si. Os capiteis apresentam decorações com figuras grotescas. À esquerda, os corpos de dois animais confluem numa só cabeça. À direita, dois bichos semelhantes a leões lutam entre si, no que poderá ser uma alegoria do bem e do mal. No adro pode ver-se um marco miliário da via militar romana que unia Braga a Astorga."
Explicação mais técnica sobre um lindíssimo templo em Rubiães. Com pormenores de grande interesse, as sepulturas, o marco miliário, o interior quase rude... Cá fora, homens e mulheres esperavam a hora da missa. E eu lá ia dizendo, de mim para mim, ao olhar aquelas caras... estou no Minho.
Clau

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Diário de viagem



Antas de Rubiães, 6 de Abril

Começa neste lugar de Paredes de Coura, uma viagem a três por esses caminhos de Portugal. De máquina fotográfica na mão eternizamos instantes, na blogosfera registamos as nossas impressões. Com uma escrita descomprometida, sem pretensões literárias, funciona sobretudo como um diário de viagem por um país fascinante.

Clau