terça-feira, 17 de abril de 2007

Ares do campo

Com as suas vestes pretas, luto de um marido bêbado e inútil, Virgínia aparenta uns 90 anos (ou mais) muito frágeis. Trabalha de sol a sol no campo, enquanto o filho, outro amigo da pinga, cansa-se (o dia todo) sentado num banco à porta de casa. Não é raro vê-la acarretar com grandes pesos. Chega a dar dó. Trabalha desde o raiar do sol até que este se ponha, quando neva e o frio se entranha no seu corpo esquelético, ou quando o calor é sufocante que uma perna tem que pedir licença à outra para se mover.
Virgínia tem 70 anos e não 90, é doente... teve um cancro no esófago. Deram-lhe meses de vida... há oito anos atrás. Mas ela lá continua, todos os dias, a ir trabalhar para o campo, a subir e a descer os caminhos, de bacia, sempre carregada, na cabeça... colhendo o alimento que põe na mesa. Também cozinha, arruma a casa, trata das coisas do filho, e ainda mima os vizinhos com dois dedos de prosa ou uma ou outra alface bem fresca que acabou de trazer da horta.
Pergunto-me se é feliz...

Sem comentários: